terça-feira, 4 de dezembro de 2007

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Bettye LaVette

Snoop gets a clean mouth

Os Velhos e o Mar

Chamo-me Rosa. No asilo temos televisão está tudo limpinho e as pessoas que tratam de nós são gentis e prestáveis. O meu amigo especial é o Raimundo e cada uma de nós velhas tem um. Os primeiros casais escolheram-se, é certo, mas depois toda a gente se agasalhou com alguém. Comecei a gostar dele mal ele veio para cá, chilreava bem, dizia piadas e era bom jogador de sueca. Depois, num dia bonito, pegou-me nas mãos e começamos a namorar. Ele fala dos filhos e dos netos e eu falo dos que já morreram porque são os únicos que eu tenho. Deixem-me contar-vos de como estou ansiosa por ver o mar e porque nunca o vi. Nasci com mazela nas pernas e nunca andei bem, cuidei da minha mãe até ela morrer, e depois das minhas duas irmãs até elas irem para Nosso Senhor. Depois morreu o cão, as pernas pioraram e resolvi vir para aqui. Raimundo, que andou mais pelo mundo, outro dia quando veio a carrinha do peixeiro amparou-me até lá fora e eu meti a cara lá dentro. - “É este o cheiro do mar, só que mais forte.” - Disse-me ele. Por isso o cheiro, eu sei mais ou menos, mas nunca me molhei, nunca, nem sei que azul é que é. As outras deram-me um fato de banho de presente e chamam-me a garota do mar. Malas e farnéis gritos e risos e chegámos á praia. Comecei a ver o mar ao longe como um prado de trigo azul. Depois dum almoço cheio de marisco fresco como eu nunca tinha comido, o Raimundo levou-me á praia para longe das dunas para dentro das rochas ricas em lapas e mexilhões. Porque cada vez ando pior ele pegou em mim ao colo e depois pousou-me num sítio entre duas pedras. A areia deslizou pelas minhas mãos e era fina e fugidia, e a água mordeu os meus pés com uma doçura morna. Era meio da tarde o sol cuidava de todos nós. Reparei como os olhos do Raimundo eram azuis; ele respondeu com grosso humor que era do Viagra. Depois beijou-me e eu deixei-me ir, lenta mas seguramente o meu corpo e o dele foram-se unindo, a areia banhou os nossos músculos cansados, a doçura pacífica das nossas carnes. O mar abraçou os nossos abraços. As gaivotas voavam curiosas. Ao carregar-me de volta para a excursão Raimundo perguntou-me: - “gostaste do mar?” – eu acenei que sim e ele disse com um sorriso maroto –“havemos de vir mais vezes”.

Títulos:

Romântico – A Rosa do mar
Neo-realista – Rosa 70
Pós-moderno – Rosa 70 Raimundo 72

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

terça-feira, 13 de novembro de 2007

White Rabbit

Pimpinelo Rojão


"Não custará acreditar que a prática da natação sobreviveu até à época do homo erectus; sabemos por experiência própria que sobreviveu até ao tempo do homo sapiens. As pessoas abastadas bastante para poderem idealizar os locais onde habitam constroem casas de banho e chuveiros e piscinas e passam as férias perto do mar. Uma vez aí exibem a tendência talassotrópica que fascinou Robert Frost:

As pessoas ao longo da areia
Viram-se e olham todas na mesma direcção.
Viram costas à terra
Olham para o mar o dia inteiro.(…)

Uma tal preferência parece-nos “apenas natural – faz parte da natureza humana”. Mas porquê? Ela não faz parte da natureza dos primatas. Se descendêssemos meramente de um símio arborícola encalhado, os nossos instintos atávicos deviam inflacionar os preços dos hotéis com vista para a floresta, e as pessoas instalar-se-iam às centenas nas suas espreguiçadeiras para contemplar as árvores o dia inteiro.”

A Hipótese do Símio Aquático, Elaine Morgan, Lisboa, Via Óptima, 2004



Nota de Alien Taco - Este livro foi-me oferecido por Pimpinelo Rojão, por ocasião do seu 90º aniversário, em Berças de Trasco, uma remota cidadela na Terra Média. Na festa apenas eu, cinco minhotas sem buço vagamente vestidas e Pimpinelo. Com os dentes cheios de arroz de sarrabulho ele disse-me: “toma tens que ler isto. Afinal há quem ache que viemos da água. Símios aquáticos, extraterrestres; Deus, donde viemos nós, afinal?”- foi a pergunta de Pimpinelo enquanto se alambazava de pudim de ovos com fios dos mesmos. Eu lá li o livro do velho Rojão e agora partilho convosco este texto do dito. Pimpinelo trabalhou nos caminhos-de-ferro como comboio durante setenta e cinco anos, reformou-se há 25 e espera viver até aos cem na sua quintarola de Berças de Trasco, rodeado de gnomos de jardim e muita carne de porco. O seu lendário apetite por cultura levou-o a criar a sua própria companhia teatro: “Os Fémures da Barcarola” e uma editora a Trambolho de Bolso. No fim da festa já adornado pela bebida com olhos flamejantes disse-me : “cá para mim o segredo está na ilha de Páscoa. Esses é que sabiam.” E foi com esta enigmática e bêbada frase que se despediu emocionado o meu velho amigo Pimpinelo Rojão, o perseverante procurador do sentido e da origem do seu semelhante e dos doces conventuais.

domingo, 11 de novembro de 2007

BREATHE IN, BREATHE OUT

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Gabardina marota


Olhai senhoras
Só tenho gabardina
Admirem o meu amigo
Ele gosta de vocês

Brandão Broa


Nota de Alien taco – A última vez que vi Brandão Broa, pedi-lhe para escrever um curto poema sobre a sua mania de se exibir nu no metro á frente de mulheres. Brandão, que não distingue um livro dum televisor avariado, lá escrevinhou umas garatujas nuns guardanapos á custa dumas bujecas e sandes de bucho. Ao sair do café, de meia desportiva e longa gabardina beije, não pude deixar de admirar o seu porte de marreco misturado com espremedor de sumos. Ao longe acenou-me e disse: "tenho que ir são seis horas, hora de ponta”.
Brandão Broa: um dos muitos estranhos a quem urge dar voz uma vez que o resto toda a gente com um pouco de sorte pode ver no metro.




William Burroughs NIKE CM

domingo, 4 de novembro de 2007

Material do Magalhães




Boetelho, o Bola de Pintelho
Poema dramático por Hermengardo D´Antas


Boetelho pinta uma cara de moçoila
Com restos de corpete, boquilhas e frascos de xarope
Embebido de Borgonha encosta-se á ideia de sugar das coisas
A cara congestionada de bons ares
Ah lavradora fumadora apertada
Uma xaropada é o que é
É tudo mentira
Porque a dobra dum corpete faz um olhar estrábico
Do frasco de xarope sai um broche
E uma das boquilhas muda-se para clister
É mais um artista que gosta de fita.
Mais um poltrão destinado a ficar na fila do purgatório
Indeciso
Coxo das mãos e senhorio dos olhos
Perdido, clama que o deixem pintar até ao fim
Nesse instante miríades de pintelhos avançam pelo desterro
Gritando Boetelho !Boetelho!
Viemos por ti!
Num instante transformam-no numa bola de pelo mal cheirosa.(Misto de pito e colhão)
E agora gritou Boetelho ?
E agora?
Como vou eu aparecer, assim peludo, á Senhora de Vila Meã?


Cai o pano.

Nota de Alien Taco – Hermengardo D´Antas vive há já largos anos no Magalhães Lemos onde convive diariamente com três coronéis Kurtz um Napoleão clássico e uma data de sinaleiros. As suas grandes influencias são Arcimboldo, filmes de Kung-fu, Bocage e a obra completa de Swedenborg. Recebi este poema das mãos trémulas de Hermengardo enquanto me sussurrava que eu era bom rapaz. Quando me mimam não sei recusar e o velho D´Antas pediu-me para postar este conjunto de palavras e assim o fiz. A opção do poster ilustrativo foi minha. Hermengardo D`Antas entregou-me o poema escrito na parte de baixo duma caixa de bolo de aniversário.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Coisas de antanho


Antre nós dar arrotos à mesa diante dos hóspedes

se tem por mau ensino;

Em Japão é muito corrente e nenhum caso fazem disso.



Em Europa procuram clareza nas palavras e fogem

da equivocação;

em Japão as equívocas é a melhor língua e são as mais

estimadas.




Em Europa ordinariamente as mulheres fazem

de comer;

em Japão o fazem os homens, e os fidalgos têm

por primor i-lo fazer à cozinha.

Tratado em que se contêm muito sucinta e abreviadamente algumas contradições e diferenças de costumes antre a gente de Europa e esta província de Japão. (...)

Feito em Canzusa aos catorze de Junho de 1585 anos - Padre Luís Fróis

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Honda Commercial (Platypus)

Where The Wild Roses Grow

Hallowmean




Hoje comemora-se o Hallowmean, esse festejo cuja dimensão foi insuflada pelo mercado para vender mais máscaras e apetrechos de assustar. Os comerciantes adoram embora ninguém perceba a razão que leva otários latinos a celebrarem uma festa anglo-saxónica. TRICK or TREAT que é o mesmo que dizer ou me dás um doce ou encho-te o portão com grafitties porno. Famílias devotas barricam-se em casa com medo dos subúrbios ranhosos que invadem as avenidas clamando por gomas e chocolates empunhando canivetes e pit-bulls. Pelo meio move-se o culto ancestral dos mortos católicos e o mundo arcaico de las brujas. Eu por mim em casa me fico a beber um chá preto com rum porque las hay…

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Arquétipos e vários personagens comentam a mulher desenhada




O poeta

Tem pinta a garota
Debruada a azul
Aliciada pelo prazer único
De ao despir-se vestir-se

Gostavas dela?
Mais ou menos.
Mas tinha já muito pouca pele.
Não sobrava sítio para singrar mais nada


O cínico porcalhão

Era como foder uma impressora.

O cego

Soube-me muito bem.

O anão surfista Oitocentista

Nunca tal vaga de azul apanhei.

A amiga boa no espelho

Gosto dos desenhos, mas eu tenho a minha mucosa desenhada interiormente com réplicas de Lascaux.

Sócrates, filósofo grego

Conhece-te a ti própria que a mim não me apetece.

D. Sebastião

Ainda não é desta que eu venho.

Frei Tuck

Dava-nos jeito para animar a malta da floresta. E se vier com a amiga melhor.

Bernard- Henri –Lévy

É muito quentinha. Senti-me como um trintão com o pénis dentro dum soquete.


Paula Rego

É muito estimulante como modelo, mas se fosse ligeiramente marreca tornava tudo melhor.

José Saramago

Desde de que consegui enganar os suecos aqui há uns anos, foi a melhor febra que me apareceu.

António Lobo Antunes

Não mexeu com a minha forquilha. Preciso de espaço e ela está toda ocupada pela única coisa que eu quero esquecer: tinta.

Conan, o Bárbaro

Não tive tempo de a conhecer, mas tem ar de ser da Ligúria.

Eufrosina, Aglaia e Tália (Provedoras do BeatBytes)

Não vemos qualquer graça em todo este texto, o humor é fraquinho desajeitado e ofensivo de alguns lares. Quanto á imagem também não gostamos, visto a senhora desenhada nunca se poder despir. A Eufrosina que é naturista não gostou mesmo nada.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Os Tudor e o Tejo



Vergado pela idade, D. João III recebe uma pilha Tudor que já tinha sido aviada no barco por salsicha Nobre, o palácio da Ribeira e respectiva corte portuguesa semelhantes a babuínos olham com agrado o bolor dos pés do rei enquanto ele se baba na criatura que veio de Inglaterra para o abafar com um almofadão. Uma Alma Grande que veio de Albion para matar o rei pútrido do planeta dos macacos. Felicita-se a imaginação e a ignorância. Será que no meio da confusão e da utopia Tomás Moro se safa?

domingo, 23 de setembro de 2007

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

terça-feira, 21 de agosto de 2007

segunda-feira, 30 de julho de 2007

sábado, 28 de julho de 2007

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Garrida virtude


O longo beijo da preguiça
a alvorada na casa do texugo
e a fuligem do resto,
fazem de todos os tontos
reis de outros tolos.
E de ti o meu amor.
E de ti o meu amor.
Que não pára
nem para sonhar
ancorado nesta parte de tudo.
Nesta parte de tudo
no teu verde prado
no solar de carne
que rodeia a tua alma
do vermelho que jorra
da carne pintada da boca
dos lábios de rosa.
De lírio do sol
a tua alma por mim roga
á luz duma Virgem que olha
pela mantilha que usas
para rezar neste fresco abrigo de pedra
em casa de Guadalupe.


quinta-feira, 26 de julho de 2007

Vitualhas




Canção dos Qidan




No Verão leite branco


No Inverno escura carne.


Movem-se das flechas, à frente: caça.


Porco-bravo, cervo, ricas presas!


Poema Mongol



quinta-feira, 19 de julho de 2007

Chá de menta



Tem tudo a ver com a água. Água fervida onde se afoga as ervas. Depois um bocado de mel para acirrar a carcassa dos sabores.Vai-se bebendo em respeitosos sorvos para respeitar o calor da água na língua. Convém fazer tudo devagar, não para se chegar ao longe, mas porque é mais aprazível. É muito melhor enlouquecer depois do chá.Nunca endoideça antes duma boa infusão.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Mukuge


michinobe no

mukuge wa uma ni

kuware keri
Basho


quinta-feira, 12 de julho de 2007

Os últimos gnomos


Outrora vagueavam pelas florestas. Hoje, quase extintos, só os vemos escondidos entre o cimento. Estimem os gnomos. Eles são nossos amigos.


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Pessegada





Uma pobre metáfora para ilustrar o processo de insanidade. Um homem caminha por entre duas paredes altas como o céu. No fim do corredor brota escassa fonte de luz. Isto é merda, paleio de sonho. Ser doido é um trabalho a tempo inteiro. Começa de manhã mal se acorda e a torneira se transforma em copo na mão. Estas alturas onde a água, a torneira e o copo são um todo. Estas pequenas coisas, como o cheiro das pessoas na rua, misturado com gasolina, flores e merda de cão, sempre tudo junto em doses precisas de uniformidade como uma barreira. E depois às vezes a rádio liga-se ao barulho de fora como uma torrente despejada pela tromba sónica de uma orquestra. Tenho um pressentimento que as coisas não são as coisas que eu vejo, mas outras. Cheira-me que na verdade nunca vi nada. E depois as vozes; costumava ser só uma como no coro isabelino, mas regredi no tempo e agora tenho um coro grego só para a minha fodida mioleira. E depois no supermercado há tantos pêssegos todos iguais nas caixinhas, como as caixas que se sentam na caixa. Todas vestidas de igual como os pêssegos. Tudo se encaixa. Tudo é falso. Mas hoje comprei uma caixa de pêssegos e vou pedir à minha mulher que mos cobre como uma caixa cobra. E fará de caixa para mim. Quanto aos pêssegos faz-se mousse. Funcionam como pré-texto.




Psi - A. T., porque insiste em dar pêssegos á sua mulher no pré-texto? Parece-me que está a assumir uma posição de pagador, vê as mulheres como algo que se compra?


Alien Taco - A doutora está delicadamente a perguntar-me se eu vejo as mulheres como putas?


Psi - Sim, postas as coisas assim...


Alien Taco - Não as vejo (ás mulheres) como coisa nenhuma, vejo uma de cada vez como um ginecologista e, neste caso, considerei a minha oferta como um complemento de ternura. Se tivesse mais dinheiro, dava-lhe duas caixas.


Psi - Você refere claramente a importância de ela lhe cobrar os pêssegos?


Alien Taco - Faz parte da fantasia, doutora. Estamos nus e sozinhos no supermercado e eu compro-lhe os pêssegos; é parecida com a do Pai Adão só que eu prefiro nectarinas a maçãs.


Psi - No supermercado tudo é igual, a torneira e o copo formam um todo, fala em barreira torrente. Sente-se afastado ou isolado?


Alien Taco - Não, o mundo é um sítio isolado, eu por acaso vivo cá.


Psi- Nas primeiras vezes falou de uma voz ténue, agora fala-me de um coro. Ouve mais vozes agora?


Alien Taco - Oh, sim e cantam bem. Soam como caixas registadoras de fundo lírico. De facto, eu gosto das minhas vozes; sem elas eu seria como você. Um ser racional que ganha a vida como bruxinha de Freud.


Psi - Noto desde o início uma certa má vontade da sua parte, estou aqui para o ajudar.


Alien Taco - Eu acho que você não me pode ajudar.


Psi - Mas...Então porque continua a vir às sessões?


Alien Taco - Não sei, devo ser doido.


domingo, 8 de julho de 2007

Da Terra á Lua



Se continuarmos a destruir a Terra não tardará muito teremos que nos mudar para a Lua.Faço desde já um apelo aos nossos futuros anfitriões selenitas:mantenham a Lua limpa, fartos de merda estamos nós.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

terça-feira, 3 de julho de 2007

BeatGurus (série I)

Betty Boop

D. Manuel Martins


Tonicha

Predador


Emily Dickinson




Pocahontas



Bocage






sexta-feira, 29 de junho de 2007

love tunes


You are all of my life to me - Screamin Jay Hawkins

I put a spell on you - Screamin Jay Hawkins




Poema de Wuxia


No riacho da refrega

um peixe de prata

No fluir da espada

cega

e depois mata.



quarta-feira, 27 de junho de 2007

Bizarro Mix


Frontier Psychiatrist - The Avalanches

Gravel Pit - Wu-Tang Clan

Hey Joe - Body Count

Freak on a Leash - Korn

Vida de cão - Ena Pá 2000



Dicionário


"O resmungar do marginalizado, o "vai-te foder" do beatnick, o silêncio do teenager na casa adversa dos pais tendem para a destruição. " George Steiner, No Castelo do Barba Azul

terça-feira, 26 de junho de 2007

Oliveira visto pelo Absinto



A Fada Verde e o Rapaz dos Cabelos Azuis comentam Oliveira.




Sinopses dementes de alguns filmes de Oliveira




ANIKI-BOBÓ - Neste filme Oliveira arrasta-nos para uma saga buéréré onde miúdos de rua (proto-Jaimes) se divertem a brincar com comboios e a namoriscar nos telhados. Este ícone a preto-e-branco é a luz das tardes de Domingo. Um filme que é o antepassado de filmes mais recentes, por exemplo, "Os Kids Mutantes da Zona J".




VALE ABRAÃO - Flaubert´s Bovary in Douro com louça inglesa e parolinhos. Alguém descreveu esta obra como a síntese entre o longo caminho de uma leguminosa, um bando de borboletas mortas e os dois botões da farda do Rato Mickey. Na minha opinião é um filme perfeito, como vídeo de instrução para empresas de segurança. Oliveira olha o Douro com a gentileza mórbida de uma câmara fixa num cofre-forte. O terror só atinge os píncaros quando uma menina Bovary entrópica se arrasta pelas cenas.




NON OU A VÃ GLÓRIA DE MANDAR - Um épico assustador. Longos planos de árvores amontoam-se ao lado de diálogos entre soldadinhos de chumbo coloniais. Jovens camaradas de armas discutem Camões e a Liberdade em cima de um camião militar. Nada de tripas nem de minas. A sequência do Unimog e a conversa-plenário transforma a bravura castrense num cházinho com o Óscar Wilde. Pelo meio do resto, Al-Quibir, Viriato e muito mais coisas bem nossas, bem portuguesas.




OS CANIBAIS - Nesta película Oliveira dá uma lição a Kubrick. Numa das cenas do filme Oliveira mostra três actores enfeitados com cabeças de porco. Em The Shining o máximo que Kubrick mostra é um actor com cabeça de porco. Logo, 3-1 para Oliveira.




AMOR DE PERDIÇÃO - O realizador desmascara com douta mestria tudo o que Camilo queria dizer e não disse. No barulho dos folhos, nos vestidos de época e na postura Geppetiana dos actores nota-se uma tendência, um pendor de agressão ao espectador. Um produto cuja virulência estática imita os polvos do senhor Ducasse.




A CAIXA - Uma reformulação hereje d' O Pátio das Cantigas onde a um bêbedo gordo se contrapõe um cego com uma caixa de esmolas. Esta atitude reflecte ainda uma reflexão profunda (demasiado profunda), sobre as pequenas coisas bem portuguesas, que se passam (muito lentamente) em bairros populares de Lisboa. Ligeiramente menos sedativo que o habitual..., mas, ainda assim...




PARTY - Nesta película o realizador refastela-se num festim burguês cujos convidados vieram da terra dos museus de cera. Irene Papas tem o seu pior papel desde o saudoso épico Os Canhões de Navarone. Party é um filme brutal. A festa glacé de Oliveira faz Tarkovsky parecer o John Woo. Nunca ninguém foi tão longe no uterino zzzz..., no subliminar zzzz..., no calmante zzz...zzzzzz....zzzzz....




VIAGEM AO PRINCÍPIO DO MUNDO - Que dizer?... Um Mastroiani moribundo acrescenta a um chumbo uma grossura necrofílica. Este retorno à aldeia primeira é uma depressão que custa a passar. Tenho um amigo que viu este filme enquanto estava sob o efeito de ácido lisérgico. Teve uma viagem tão má que quando chegou a casa vindo do cinema sentiu a necessidade de tirar as imagens dos olhos com outras. Enfiou o primeiro DVD que lhe veio à mão. Era a Bíblia de John Huston. O meu amigo converteu-se nessa noite. Durante uns tempos nunca falou desse episódio e, mesmo hoje, não encontra explicação para estes fenómenos.




LE SOULIER DE SATIN - Um chinelinho de cetim que veio do inferno. O mais narcótico dos produtos de Oliveira. Muitas horas de delírio do Mestre.




FRANCISCA - Uma espécie de menu de emergência de todos os cineclubes. A fita do Godard queimou, o do Pasolini é muito pesado, levam com a menina Francisca. É no século XIX e trata-se de um triângulo amoroso entre dois frangos e uma franguinha imprópria para cabidela. Um enredo de coisas nossas, bem portuguesas de paixão. Tudo servido com o habitual molho dormideira à Oliveira. Se te deslocares a Francisca leva uma flor no cabelo e uma almofada.




DIA DO DESESPERO - Largos dias têm cem anos. A obcessão camiliana ao mais alto nível. Para quando a continuação. O DIA SEGUINTE: REGRESSO E VINGANÇA, onde Camilo regressa dos mortos para se vingar de toda a gente que não viu a sua agonia romântica. Ou ainda uma curta-metragem onde um Camilo cego tenta comprar papel de carta num supermercado cheio de gente. Título possível: DESESPERO NO DIA*




*Alusão a uma conhecida rede de supermercados.




A COMÉDIA DIVINA* - Uma história singela passada numa casa-manicómio. A trama do filme é confusa e os personagens, na sua maior parte, têm a consistência de kalkitos. Mas a escolha do título foi catita.




* A gralha faz parte da graçola.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

GALERIA NARDO D' ATKINSON

COLECÇÃO NATURA

Agricultor



Fantasia Olmeca



Chihuahua


quarta-feira, 13 de junho de 2007

Merenda


"Uma Visão" - W.B. Yeats

"A Revolução Electrónica" - William Burroughs

"Patanjali e o Yoga" - Mircéa Eliade

"O Caminho do Xamã" - Michael Harner

"A Dança da Realidade" - Alejandro Jodorovsky




segunda-feira, 11 de junho de 2007


O tocador de harpa




beatsounds


String mix

Pinetop's blues - Memphis Slim/Alexis Korner

Ridding in the moonligth - Howling Wolf

House rockin boogie - Howling Wolf

You gotta move - The Rolling Stones

On the road again - Canned Heat



Wine-spodiodi: sandes líquidas de whisky com Porto




Dean e eu terminamos a noite com um black chamado Walter que trouxe bebidas do bar e as colocou em fila e disse, "wine-spodiodi" que era uma parte de vinho do Porto, uma de whisky, e outra de vinho do Porto.


Pela Estrada Fora, Jack Kerouac



sábado, 9 de junho de 2007




Filmes giros




"Aurora"/Sonnenaufgang - F. W. Murnau, 1927


"A Menina da Rádio" - Arthur Duarte, 1944


Zaitoichi - Takeshi Kitano, 2003






Oh..Oh...Asas de frango...

Só esvoaçam...

No deleite dos convivas









Doce pasto, o das abelhas

Nas flores nutridas.













sexta-feira, 8 de junho de 2007



Muita gente, acho eu, nunca entendeu o deserto. O deserto não é feito de morte mas de vida a ferver. O crânio do cavalo que morreu abriga lagartos e aconchega-os. O cacto impõem-se húmido por dentro ao sol resplandecente. As pegadas, mesmo as que sobram de pés sem trapos, cedo se extinguem. O mato rasteiro, o arbusto seco que rola são graçolas dum exagero de vida. Estão mais vivos que a morte.






quarta-feira, 6 de junho de 2007

Festa na floresta


beatsounds



Mad Mix

Harlem Nocturne - The Lounge Lizards

Broken Hearted Blues - Buddy Guy

You can't judge a book by the cover - Bo Diddley

Studio Blues - Link Wray and his Raymen

Saludo a Changó - Compay Segundo/ Khaled

Entre copa y copa - Miguel Aceves Mejia

Cabelo Branco - Alfredo Marceneiro











terça-feira, 5 de junho de 2007


Tenor Madness














domingo, 3 de junho de 2007


Filmes giros


"Cão Danado" / "Nora Inu" - Akira Kurosawa, 1949

"Polícia sem Lei"/ "Bad Lieutenant" - Abel Ferrara, 1992

"Os Viciosos" / "The Addiction" - Abel Ferrara, 1995
















WHEN FUELED BY PEYOTE, CARS ARE SILVER LINES RUNNING IN SPACE.